Morreu António Borges Coelho, o historiador que lutou contra o Estado Novo. Tinha 97 anos
Depois de décadas ligado à oposição ao Estado Novo, o académico publicou várias obras sobre a História de Portugal. Com 97 anos, foi vítima de uma pneumonia.
Morreu na Sexta-feira, dia 17 de outubro, o historiador António Borges Coelho. Tinha 97 anos, feitos no passado dia 7.
A notícia foi confirmada pelo Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL) no seu site. Na publicação, o SPGL destaca a vida do historiador, que foi “uma permanente luta pela liberdade, paga com anos nas prisões do fascismo, na proibição, pela ditadura, de ensinar em escolas públicas”.
Segundo o jornal Público, António Borges Coelho foi vítima de uma pneumonia, após ter contraído covid-19.
Na nota publicada no seu site, o SPGL destaca a “visão da História” deixada pelo professor, que sublinhou “o papel e o lugar do povo anónimo na construção do país”.
Com a queda do Estado Novo, Borges Coelho tornar-se-ia professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL).
“Borges Coelho continuará como um exemplo, um mestre que indica os caminhos a trilhar, em luta permanente, por uma sociedade de justiça e de verdadeiro humanismo”, destaca o SPGL.
António Borges Coelho nasceu a 7 de outubro de 1928 em Murça, Vila Real. Frequentou o seminário franciscano em Braga durante cinco anos mas acabou por abandonar essa via. Numa entrevista à RTP em 2007, fala de “insatisfação” com esse percurso ao fim de dois anos de seminário, com interesse subsequente noutras áreas, nomeadamente na história da literatura grega e romana.
A vida de António Borges Coelho foi marcada pela luta contra o Estado Novo, tendo sido dirigente do PCP na clandestinidade, o que lhe valeu a prisão pela PIDE. Cumpriu dois anos e nove meses de pena.
Segundo o Museu do Aljube (cujo conselho consultivo integrou até 2020), Borges Coelho optou por não integrar a fuga de Peniche, em 1960, por recusar “nova clandestinidade” e querer ter “uma carreira como historiador após a libertação”.
Em 1967, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas e, no ano seguinte, torna-se jornalista, tendo trabalho para alguns títulos como A Capital ou o Diário de Lisboa.
Enquanto historiador, publicou várias obras de poesia, ficção, ensaio e peças de teatro. “Raízes da Expansão Portuguesa”, “Portugal na Espanha Árabe” e “História de Portugal VII – Portugal na Europa das Luzes” foram algumas das suas obras mais importantes. Ainda em setembro último, publicou o livro “Poemas”.
Em vida, Borges Coelho recebeu ainda várias condecorações, como a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, da Presidência da República, ou a Medalha de Mérito Cultural atribuída pelo Governo.
O corpo de António Borges Coelho esteve no Centro Funerário de Alcabideche, na Segunda-feira, dia 20 de Outubro, a partir das 12:00, onde foi prestada uma homenagem, pelas 16:30, e às 18:00 decorreu a cerimónia de cremação.
